sábado, 20 de outubro de 2012

A "solidão"

O tempo passa e o crescimento avança. Eu estava cada vez mais menininha, mais esperta e a tentar perceber tudo o que se passava à minha volta. No fundo, no início da separação dos meus pais, eu apenas me tentei habituar à ideia, e digamos que ainda não entendia muito bem aqueles problemas a que eles tratavam como "problemas de adultos".
  Sei que no fundo me  magoava, quando pensava: "e agora? onde está o meu pai para brincar comigo lá fora... Onde está ele para me levar a comer fora?"; "onde está ele...". Os dias eram uma rotina, já não tinham sentido. Sentia-me sozinha, sem amiguinhos, sem nada. Lembro-me de olhar para as fotografias que se encontravam em cima da mesa da casa de jantar e de imaginar momentos com as pessoas que via nos retratos. Lembro-me também de identificar qualquer cara que estivesse estampada numa moldura. É... passava o meu tempo assim, inventando, imaginando, criando histórias sem fim na minha cabeça.
  Lembro-me também, como se fosse hoje, quando gritava da sala para o quarto da minha mãe: "MÃÃÃÃEEEEEE, vem brincar comigo!" e de ouvir a sua resposta curta e fria: "a mãe não pode. Está doente." Eu mantinha o meu silêncio e juntamente com ele a minha pequena solidão, pois no fundo era como estivesse sozinha...

domingo, 30 de setembro de 2012

Olá leitore(a)s lindo(a)s. Peço desculpa pela ausência! Ultimamente, não tenho tido tempo nem paciência para escrever... :| Mas acho que agora estou de volta! Espero que continuem a seguir os meus posts. Beijos

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A "Alimentação"

É certo que eu sentia a falta do meu pai todos os segundos, todos os minutos e todas as horas. Mas havia momentos em que a saudade e a necessidade falavam ainda mais alto! Lembro-me que muitas vezes quando os meus pais discutiam, o meu pai agarrava em mim, punha-me na minha cadeirinha e levava-me directamente a um restaurante, pois a discussão mais frequente era sempre a minha alimentação... Quando ele lá estava em casa, ainda conseguia dar a volta à situação, agora que eu estava sozinha com a minha mãe a minha alimentação, resumia-se a uma sandes, algumas vezes fruta e um sumo. Mas o que comia também em bastante quantidade eram cereais, as famosas "estrelitas"! A carne, o peixe ou a sopa, foram durante alguns meses excluídos da minha roda alimentar, e não por falta de dinheiro, apenas porque a única pessoa que podia cozinhar era a minha mãe, pessoa que se recusava a confeccionar qualquer tipo de comida ao fogão. Talvez porque a cama fosse mais importante para ela do que eu. Lembro-me perfeitamente que sempre que ficava com fome, andava consecutivamente ás voltas pela casa e a gritar à minha mãe que tinha que comer, que queria comer, a resposta dela era que eu esperasse para ela se poder levantar. Coisa que muitas vezes não acontecia. Eu esperava... mas era em vão. E aí, punha em prática a famosa birra, até que ela se rendia aos meus gritos e ao meu choro e lá me ía fazer uma sande de qualquer coisa. Enquanto eu comia lembro-me perfeitamente de ver a impaciência nos olhos dela, a forma como ela me olhava como se estivesse a dizer: "despacha-te, quero voltar para a cama". E, muitas das vezes nem acabava a pequena refeição que tinha.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O isolamento

Depois do meu pai seguir uma vida sozinho, ele visitava-me algumas vezes, não com a frequência que eu desejava, mas o seu trabalho impedia-o de muita coisa. Quando ele lá ía a casa a minha mãe queria fazer-se parecer bem, mas quando ele lá não estava a realidade era outra. Todas as crianças necessitam de respirar ar fresco, correr pelas ruas, ter contacto com a natureza, sentirem-se livres, ter os seus brinquedos, não ter hora para parar de se divertir. No meu caso foi um pouco diferente. Depois da separação dos meus pais a minha mãe piorou. A depressão aumentou, ou seja, os dias dela eram passados na cama. E eu como outra criança qualquer não gostava de estar parada e obviamente que não iria ficar o dia todo deitada tal como ela. Portanto, com 4 anos eu já sabia pôr e tirar cassetes de um video. Costumo dizer que naquela altura a televisão era a minha barbie e o video era o meu ursinho de peluche. Ás vezes de tanto ver as mesmas cassetes, acabava por decorar as falas e divertia-me com isso. Mas de tanto as ver, também me aborrecia e quando pensava em ir à rua, dirigia-me ao hall de entrada, mas a minha descoberta com o ar livre acabava antes de abrir a porta. Pois estava quase sempre trancada. E eu sabia que gritar pela minha mãe não valia quase de nada, porque as poucas vezes que eu podia sair à rua eram uma espécie de 5 minutos em que eu conseguia andar na minha bicicleta de rodinhas e pouco tempo depois teria de voltar para casa. Ao longo de algum tempo, os meus dias de criança, eram uns dias tristes e cinzentos. Dias que eu não sabia se teriam sol ou chuva.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A inevitável separação

 Depois de discussões infinitas entre os meus 2 progenitores e momentos traumáticos aos quais prefiro nem me lembrar, a separação de ambos acabou por acontecer... Lembro-me como se fosse hoje da forma brusca e bastante rápida com que o meu pai abandonou a nossa casa. Eu estava sentada ao pés da cama dos meus pais, a ver o que acontecia segundo-a-segundo, vejo o meu pai a dirigir-se ao quarto com um saco para pôr umas roupas lá dentro e de seguida a dirigir-se a mim com uma rapidez fora do normal. As únicas palavras dele foram: " adeus filhota". Despediu-se com 2 beijos e nem me deu tempo que eu me despedisse também. A minha vontade era agarrá-lo e não o deixar ir embora, mas não se espera muito de uma criança de 4 anos. Ao anoitecer, lembro-me da minha mãe a chorar desoladamente como se duma morte se tratasse, e eu, sem saber o que fazer. Quando nos deitámos, sem um único alimento dentro do estômago, eu repetia consecutivamente a palavra "pai, pai, pai, pai..." até adormecer...
Os dias foram passando e a dor diminuindo, enquanto a saudade aumentava. Agora era só eu e a minha mãe e as coisas pioravam cada vez mais.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Infância "diferente"


Há 12 anos atrás, eu era pequena, inofensiva, ingénua, mas com uma curta vivência que nenhuma criança deseja ter. Por mais que tente não me consigo lembrar o que pensava na altura, apenas tenho imagens gravadas na minha cabeça inesquecíveis e pelas piores razões. Visto que tinha 3 anos, não sabia nada da vida, e a partir daí fui obrigada a crescer rápido demais... Pelo que me contam, durante a minha gestação a minha mãe era uma pessoa normal, com as suas manias e defeitos, mas com um cuidado extremo comigo, mesmo sem me conhecer. Depois de ter nascido, as coisas mudaram, a vida dela era uma mera rotina entre o hospital e a nossa casa. Até aos meus 3 anos de idade sempre foi uma mãe presente, diria até, um exemplo de mãe! Mas as coisas mudaram radicalmente a partir dessa altura. Foi-lhe detectada uma depressão crónica, que em palavras simples significa depressão sem cura... E foi nessa altura que o meu mundo de criança pequena e ingénua, acabou. Cheguei a assistir de tudo, desde discussões graves entre os meus pais a agressões. Eu, aquela coisinha pequenina, chegava a meter-me entre o meu pai e a minha mãe, para que eles parassem e muitas vezes era em vão.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Introdução ao blogue, esclarecimento aos seguidores

Aqui a minha intenção não é relatar o meu dia-a-dia, por enquanto. Pois isso seria muito banal e como me encontro em período de férias iria ser aborrecido e pouco interessante. Neste blogue quero relatar a minha pequena história de vida, visto que ainda tenho muito que viver e aprender. Quero exprimir sentimentos e acima de tudo deixar-me levar pela escrita e fazer passar aos meus leitores, segurança, emoção e acima de tudo reforçar a ideia que apesar de tudo o que  vou divulgar no blogue, não gosto nem nunca gostei que tenham pena de mim. Porque eu sou feliz e por mais dificuldades que me apareçam irei sempre pensar bem, que existem milhares de pessoas muito piores que eu. Aqui, por enquanto, vou só relatar o meu passado, apenas porque também quero desabafar, deitando cá para fora aquilo que guardo em mim e que por vezes me faz E-X-P-L-O-D-I-R.