O tempo passa e o crescimento avança. Eu estava cada vez mais menininha, mais esperta e a tentar perceber tudo o que se passava à minha volta. No fundo, no início da separação dos meus pais, eu apenas me tentei habituar à ideia, e digamos que ainda não entendia muito bem aqueles problemas a que eles tratavam como "problemas de adultos".
Sei que no fundo me magoava, quando pensava: "e agora? onde está o meu pai para brincar comigo lá fora... Onde está ele para me levar a comer fora?"; "onde está ele...". Os dias eram uma rotina, já não tinham sentido. Sentia-me sozinha, sem amiguinhos, sem nada. Lembro-me de olhar para as fotografias que se encontravam em cima da mesa da casa de jantar e de imaginar momentos com as pessoas que via nos retratos. Lembro-me também de identificar qualquer cara que estivesse estampada numa moldura. É... passava o meu tempo assim, inventando, imaginando, criando histórias sem fim na minha cabeça.
Lembro-me também, como se fosse hoje, quando gritava da sala para o quarto da minha mãe: "MÃÃÃÃEEEEEE, vem brincar comigo!" e de ouvir a sua resposta curta e fria: "a mãe não pode. Está doente." Eu mantinha o meu silêncio e juntamente com ele a minha pequena solidão, pois no fundo era como estivesse sozinha...
Vivências
sábado, 20 de outubro de 2012
domingo, 30 de setembro de 2012
terça-feira, 21 de agosto de 2012
A "Alimentação"
É certo que eu sentia a falta do meu pai todos os segundos, todos os minutos e todas as horas. Mas havia momentos em que a saudade e a necessidade falavam ainda mais alto! Lembro-me que muitas vezes quando os meus pais discutiam, o meu pai agarrava em mim, punha-me na minha cadeirinha e levava-me directamente a um restaurante, pois a discussão mais frequente era sempre a minha alimentação... Quando ele lá estava em casa, ainda conseguia dar a volta à situação, agora que eu estava sozinha com a minha mãe a minha alimentação, resumia-se a uma sandes, algumas vezes fruta e um sumo. Mas o que comia também em bastante quantidade eram cereais, as famosas "estrelitas"! A carne, o peixe ou a sopa, foram durante alguns meses excluídos da minha roda alimentar, e não por falta de dinheiro, apenas porque a única pessoa que podia cozinhar era a minha mãe, pessoa que se recusava a confeccionar qualquer tipo de comida ao fogão. Talvez porque a cama fosse mais importante para ela do que eu. Lembro-me perfeitamente que sempre que ficava com fome, andava consecutivamente ás voltas pela casa e a gritar à minha mãe que tinha que comer, que queria comer, a resposta dela era que eu esperasse para ela se poder levantar. Coisa que muitas vezes não acontecia. Eu esperava... mas era em vão. E aí, punha em prática a famosa birra, até que ela se rendia aos meus gritos e ao meu choro e lá me ía fazer uma sande de qualquer coisa. Enquanto eu comia lembro-me perfeitamente de ver a impaciência nos olhos dela, a forma como ela me olhava como se estivesse a dizer: "despacha-te, quero voltar para a cama". E, muitas das vezes nem acabava a pequena refeição que tinha.
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
O isolamento
Depois do meu pai seguir uma vida sozinho, ele visitava-me algumas vezes, não com a frequência que eu desejava, mas o seu trabalho impedia-o de muita coisa. Quando ele lá ía a casa a minha mãe queria fazer-se parecer bem, mas quando ele lá não estava a realidade era outra. Todas as crianças necessitam de respirar ar fresco, correr pelas ruas, ter contacto com a natureza, sentirem-se livres, ter os seus brinquedos, não ter hora para parar de se divertir. No meu caso foi um pouco diferente. Depois da separação dos meus pais a minha mãe piorou. A depressão aumentou, ou seja, os dias dela eram passados na cama. E eu como outra criança qualquer não gostava de estar parada e obviamente que não iria ficar o dia todo deitada tal como ela. Portanto, com 4 anos eu já sabia pôr e tirar cassetes de um video. Costumo dizer que naquela altura a televisão era a minha barbie e o video era o meu ursinho de peluche. Ás vezes de tanto ver as mesmas cassetes, acabava por decorar as falas e divertia-me com isso. Mas de tanto as ver, também me aborrecia e quando pensava em ir à rua, dirigia-me ao hall de entrada, mas a minha descoberta com o ar livre acabava antes de abrir a porta. Pois estava quase sempre trancada. E eu sabia que gritar pela minha mãe não valia quase de nada, porque as poucas vezes que eu podia sair à rua eram uma espécie de 5 minutos em que eu conseguia andar na minha bicicleta de rodinhas e pouco tempo depois teria de voltar para casa. Ao longo de algum tempo, os meus dias de criança, eram uns dias tristes e cinzentos. Dias que eu não sabia se teriam sol ou chuva.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
A inevitável separação
Depois de discussões infinitas entre os meus 2 progenitores e momentos traumáticos aos quais prefiro nem me lembrar, a separação de ambos acabou por acontecer... Lembro-me como se fosse hoje da forma brusca e bastante rápida com que o meu pai abandonou a nossa casa. Eu estava sentada ao pés da cama dos meus pais, a ver o que acontecia segundo-a-segundo, vejo o meu pai a dirigir-se ao quarto com um saco para pôr umas roupas lá dentro e de seguida a dirigir-se a mim com uma rapidez fora do normal. As únicas palavras dele foram: " adeus filhota". Despediu-se com 2 beijos e nem me deu tempo que eu me despedisse também. A minha vontade era agarrá-lo e não o deixar ir embora, mas não se espera muito de uma criança de 4 anos. Ao anoitecer, lembro-me da minha mãe a chorar desoladamente como se duma morte se tratasse, e eu, sem saber o que fazer. Quando nos deitámos, sem um único alimento dentro do estômago, eu repetia consecutivamente a palavra "pai, pai, pai, pai..." até adormecer...
Os dias foram passando e a dor diminuindo, enquanto a saudade aumentava. Agora era só eu e a minha mãe e as coisas pioravam cada vez mais.
Os dias foram passando e a dor diminuindo, enquanto a saudade aumentava. Agora era só eu e a minha mãe e as coisas pioravam cada vez mais.
terça-feira, 14 de agosto de 2012
Infância "diferente"
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
Introdução ao blogue, esclarecimento aos seguidores
Aqui a minha intenção não é relatar o meu dia-a-dia, por enquanto. Pois isso seria muito banal e como me encontro em período de férias iria ser aborrecido e pouco interessante. Neste blogue quero relatar a minha pequena história de vida, visto que ainda tenho muito que viver e aprender. Quero exprimir sentimentos e acima de tudo deixar-me levar pela escrita e fazer passar aos meus leitores, segurança, emoção e acima de tudo reforçar a ideia que apesar de tudo o que vou divulgar no blogue, não gosto nem nunca gostei que tenham pena de mim. Porque eu sou feliz e por mais dificuldades que me apareçam irei sempre pensar bem, que existem milhares de pessoas muito piores que eu. Aqui, por enquanto, vou só relatar o meu passado, apenas porque também quero desabafar, deitando cá para fora aquilo que guardo em mim e que por vezes me faz E-X-P-L-O-D-I-R.
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